O dólar encerrou a sessão desta terça-feira (17) cotado a R$ 6,09, após tocar o pico de R$ 6,20 ao longo do dia, pressionado por um cenário de desconfiança com a situação fiscal do Brasil. Apesar do leve recuo, a moeda norte-americana renovou sua máxima histórica, refletindo o ambiente de pressão cambial persistente e incertezas econômicas.
Deterioração cambial e contexto histórico
De acordo com dados do índice Ptax, o real acumula uma desvalorização de 21,52% em 2024, posicionando-se como o quinto pior desempenho cambial dos últimos 24 anos. O valor atual aproxima-se da desvalorização registrada em 2020, durante a pandemia da Covid-19, com diferença de apenas 0,92 ponto percentual, segundo análise de Einar Rivero, da Elos Ayta.
Rivero aponta que, historicamente, a moeda brasileira é altamente volátil, registrando desvalorizações em 15 dos últimos 25 anos. Os piores desempenhos geralmente ocorreram em momentos de recessão, crises globais ou instabilidade política.
Fatores que pressionam o câmbio
- Desconfiança com a política fiscal:
O pacote fiscal apresentado pelo governo no final de 2023 não foi suficiente para convencer os investidores. A percepção de deterioração das contas públicas pesa sobre o mercado e aumenta a aversão ao risco em relação ao Brasil. - Juros elevados nos EUA:
A política monetária restritiva do Federal Reserve, com taxas de juros altas, continua atraindo fluxos de capital para os títulos do Tesouro americano, reduzindo a atratividade de moedas emergentes como o real. - Volatilidade global:
O ambiente internacional, marcado por incertezas econômicas e disputas comerciais, contribui para o aumento da volatilidade em moedas de países emergentes.
Projeções e desafios para o real em 2025
Segundo Rivero, o desempenho do real no próximo ano dependerá de três fatores principais:
- Reformas fiscais e ajustes estruturais:
Uma política fiscal mais robusta e previsível será essencial para restaurar a confiança dos investidores. - Cenário externo menos restritivo:
A expectativa de redução nos juros americanos pode aliviar a pressão sobre o câmbio, aumentando a competitividade de moedas emergentes. - Aceleração do crescimento econômico:
Um crescimento mais consistente da economia brasileira ajudaria a reduzir a percepção de risco e atrair investimentos estrangeiros.
Rivero conclui que, apesar das dificuldades, o real já demonstrou resiliência em momentos de recuperação global, mas seu fortalecimento depende de uma gestão econômica sólida e previsível.
Análise histórica: o real em 25 anos
Desde 2000, as maiores valorizações do real coincidiram com períodos de recuperação econômica global e avanços estruturais no Brasil, como:
Leia mais: Tim anuncia bolada de R$650 milhões em JCP
- 2003-2008: Boom das commodities.
- 2009-2010: Recuperação após a crise financeira global.
- 2016-2019: Reformas econômicas e maior estabilidade fiscal.
Por outro lado, os episódios mais marcantes de desvalorização incluíram:
- 1999: Crise cambial e adoção do câmbio flutuante.
- 2015: Recessão e crise política durante o governo Dilma Rousseff.
- 2020: Pandemia da Covid-19.
Mensagem do mercado: O desempenho do real reflete os desafios estruturais da economia brasileira, e as soluções passam por ajustes fiscais consistentes e previsibilidade na condução econômica. A capacidade do Brasil de atrair investimentos e reduzir a volatilidade cambial depende, agora, de ações concretas para enfrentar esses desafios.